segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Ladrão de Almas



O estranho nome da escritora islandesa Yrsa Sigurdardóttir (n.1963) pode não ajudar muito à sua memorização, mas isso não impediu que o seu primeiro romance negro, "O Último Ritual" (Gótica, 2007), fosse um sucesso um pouco por todo o mundo.

Yrsa Sigurdardóttir é engenheira civil e lidera, na Islândia, um dos mais arrojados projectos hidráulicos do mundo, que em termos gerais se pode resumir à abertura e construção de gigantescos túneis, no subsolo de lava, destinados ao aproveitamento e condução da água do degelo de um glaciar. Devido às condições climáticas adversas durante o Inverno e aos lugares remotos onde o trabalho se desenvolve, o tempo livre parece não lhe faltar e Yrsa começou a escrever: primeiro, cinco romances infanto-juvenis (alguns deles distinguidos com importantes prémios), e depois os "romances negros" (o terceiro acaba de sair na Islândia).

Para o seu romance de estreia, cuja acção decorre na actualidade, em Reiquiavique e numa zona inóspita no Noroeste da ilha, Sigurdardóttir inspira-se em rituais ancestrais islandeses e na primeira "queima de bruxas" na Islândia em 1625, bem como em acontecimentos anteriores, erupções vulcânicas e histórias de epidemias.

Em "O Último Ritual" há como que um exorcismo colectivo de uma memória histórica dolorosa que culmina na Reforma Luterana e nas diferenças entre esta e a Igreja Católica. Não é sem motivo que a vítima, Harald, o jovem estudante de arqueologia cujo corpo apareceu sem olhos e marcado por estranhos símbolos, é católico. A interessante dupla de "detectives" criada para desvendar o mistério em "O Último Ritual", a advogada Porá e o antigo polícia alemão Matthew (que não fala islandês), parece que vai ter vários casos para investigar.

Para já, foram também eles que tomaram conta do caso (investigando paralelamente à pacata polícia islandesa) que serve de base ao segundo romance acabado de publicar pela editora Gótica e traduzido directamente do islandês. A acção de "Ladrão de Almas" decorre durante duas semanas do mês de Junho de 2006 num hotel "new age", acabado de construir numa antiga quinta junto ao mar, numa zona inóspita a algumas horas da capital islandesa. A arquitecta, a jovem Birna, ainda não tinha dado o trabalho por concluído (trabalhava no projecto de recuperação de algumas ruínas da antiga quinta) quando o seu cadáver apareceu na praia: sem cara e com os pés espetados por alfinetes.

Uma história absorvente, complexa, com ramificações num passado longínquo, em que as peças, qual puzzle gigantesco, se vão encaixando, uma a uma, numa elaborada teia que culmina num desenlace inesperado. Um bom livro, fugindo aos clichés do género, pese a existência de alguns diálogos forçados entre os protagonistas, mas capaz de nos transportar para paragens exóticas, povoadas por personagens excêntricas e marcantes.

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